quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Escrever (...), pra quê?



Pra que se escrever, afinal de contas?
Pra excomungar os maus espíritos do cosmos e do corpo? Arrebanhar almas suscetíveis e, de quebra, embalsamar nosso discurso (muito apesar do próprio silêncio)?
Platão já dizia (escrevia!) que não devemos confiar em nada que não possa dar a possibilidade imediata e concreta de resposta para qualquer enunciado que seja... Então, meu deus, por que escrever se a escrita surge amiúde como simulacro invasivo da linguagem oral, orgânica e livre - pr'além e aquém de quaisquer mapeamentos e oficialidades?
Escreve-se pra exorcizar a morte, talvez.
Cimentam-se palavras tecidas de "sutil" sintática como quem inventa outra vida menos burra e - supostamente - (im)previsível e mais corajosa.
Mas, ainda assim, como insistimos neste hábito evidentemente injustificável que é o da escrita? Nínguém nunca parou pra pensar no absurdo que subjaz ao patético ato de escrever?
Quem sabe não seria melhor abandonarmo-nos à própria sorte da discursividade irridenta e vivérrima dos tempos simultâneos do eco e da fala? Aliás: por que se insiste em se escrever mais do que se ouve, lê e vê?
Calemos um pouco e ouçamos a voz do vento.