quinta-feira, 29 de julho de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

banheiro público


Rua Fernando Machado / Porto Alegre

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Carta de Melville a Hawthorne

"Tampouco nos servirá, de modo algum, dizer que o mundo está ficando grisalho e encanecido agora, e que perdeu aquele frescor e encanto que tinha outrora e em virtude do qual os grandes poetas dos tempos passados se tornaram o que estimamos que eles sejam. Não. O mundo é hoje tão jovem quanto no dia em que foi criado; e este orvalho matinal de Vermont é tão úmido aos meus pés quanto o orvalho do Éden foi aos pés de Adão. E tampouco a natureza foi totalmente revirada por nossos antepassados a ponto de não restar encantos e mistérios para essa última geração encontrar. Longe disso. A trilionésima parte ainda não foi dita; e tudo o que já foi dito apenas multiplica as possibilidades para o que resta ser dito. Não é tanto a escassez, mas a superabundância de materiais o que parece incapacitar os autores modernos".
Herman Melville. Hawthorne e seus musgos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Jornal do Brasil

Reproduzo a seguir depoimento de Fernando Gabeira sobre o Jornal do Brasil (redação em que trabalhou nos anos sessenta), o qual, desde a semana passada deixou de sair quentinho das gráficas para se resignar a uma sobrevivência apenas zumbiesca em um endereço da internet:

" O Jornal do Brasil foi o sonho profissional da nossa juventude desde os anos 1950 até o princípio dos anos 1960. Representou o sonho profissional de toda uma geração no início da década de 1960. Foi a mais radical reforma jornalística feita no país até aquela data.

O uso do espaço em branco na introdução de fotografias com a luz ambiente e excelentes reportagens eram alguns dos seus componentes.

O desenho do jornal, trabalhado por Amílcar de Castro e inspirado no pintor holandês Mondrian, representou durante muito tempo uma atração internacional, porque muitos jornalistas vieram do exterior para observar aquelas mudanças.

Na parte cultural, o Jornal do Brasil inovou lançando um suplemento literário voltado para o concretismo, mas que revelou alguns dos principais poetas e escritores do país.

Nos últimos anos, o Jornal do Brasil tornou-se um fantasma do que era, conservando a máxima de que um jornal leva mais de uma década para morrer".  



quinta-feira, 15 de julho de 2010

sonhando com Vinícius

Hoje à noite tive o prazer de conversar com Vinícius de Moraes em um sonho. Estávamos dentro de um carro estacionado na pista de um aeroporto. Não sei por qual razão específica dialogávamos em inglês. Falamos de algumas letras suas que haviam tido problema com a censura. Também o indaguei sobre a época em que ele estudou literatura inglesa em Oxford. Tudo muito despretensioso e íntimo, como se eu estivesse diante de um amigo querido de longa data. Além disso, com a extravagância um tanto marota de conversarmos em um idioma que não era o nosso.
Depois que mudamos de cenário - por uma dessas razões secretas que os sonhos não explicam -, nos vimos diante de uma casa simples em cujo galpão de zinco se organizava uma festa. Pelo que pude perceber, Vinícius era o motivo da celebração. De qualquer modo, mostrou-se muito feliz e me apresentava a todos como seu "parceirinho". Havia um jornal sobre uma cadeira. E era o Jornal do Brasil na diagramação da década de 70. O mesmo jornal que desde hoje deixou de circular pelas bancas fluminenses e brasileiras...
Depois disso, deixei Vinícius conversar com a sua patota, e bati um papo com o homem que instalava o som e cuidava para que as cervejas se conservassem geladas.

terça-feira, 13 de julho de 2010

proibições impossíveis

e nem que me dissessem
ou sequer me fosse sugerido
nada negaria o já vivido

também não poderiam
num gesto qualquer
impedir o que houver

por outro lado
não se deixem enganar:

há de estar pronto e assinado
o que vier marcar

quinta-feira, 8 de julho de 2010

escola pública e a gerência da miséria no Brasil

Assim como a autora do texto que reproduzo abaixo, passei a maior parte da minha formação escolar em cadeiras de escolas públicas. Tive ótimos professores e colegas muito inteligentes, tendo acesso a uma realidade social muito mais rica em comparação à que tive mais tarde, quando estudei em colégio particular. Daí a minha indignação diante da evidente decadência galopante da qualidade do ensino fundamental e médio. O tema é demasiadamente vasto e complexo. Por enquanto, ao menos, fico com as palavras de Cristina Grillo sobre as escolas cariocas (mas que obviamente valem pra todas as brasileiras):

Tristeza profunda

RIO DE JANEIRO - Estudei em escola pública. Não em uma daquelas que ocupam o topo dos rankings de desempenho, mas em uma pequena escola de subúrbio, hoje cercada por favelas violentas, em uma das muitas "faixas de Gaza" que separam os cariocas em castas.

Lá, tinha professores dedicados, disciplina rigorosa e aulas que me prepararam para, anos mais tarde, enfrentar um disputado vestibular e conseguir vaga em uma universidade federal.

Uma vez por semana íamos à biblioteca, sala enorme com estantes cobertas de volumes coloridos. Escolhíamos livros que, mais tarde, discutiríamos em sala de aula. Tínhamos aulas de música, artes.

Lembro-me de carregar na pasta -não se usavam mochilas- uma caixa de fósforos cheia de grãos de feijão que me ajudavam a entender os conceitos de matemática.

Crianças assustadas, fazíamos de tudo para passar longe do consultório onde um dentista nos examinava e, se nos comportássemos, nos dava de presente uma escova de dentes novinha. Agentes do posto de saúde nos visitavam para cuidar de nosso bem-estar.

Boas lembranças. Por isso me bate uma tristeza profunda quando vejo os resultados do Rio de Janeiro no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgados pelo MEC no início da semana.

Na classificação até o quinto ano, 42% de nossas escolas não atingiram a meta proposta, a segunda pior colocação entre os Estados. A situação piora quando se avaliam as escolas até o 9º ano: 62% estão abaixo da projeção, o pior índice do país.

No ensino médio o Estado tirou 2,8, à frente apenas do Piauí. Ficamos muito abaixo da já reduzida média nacional -3,6.

Se, nos tempos da Escola Ruy Barbosa, aparecesse em casa com uma nota dessas, levaria uma bronca inesquecível.

Cristina Grillo, FSP, 08/07/10.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

proposta de debate

Escrevi o texto abaixo como uma primeira tentativa de me articular perante o delicadíssimo problema do ensino crítico nos cursos de direito dos tempos correntes. O tom mais genérico e pouco exemplificativo da escrita se faz aqui proposital. O objetivo é desdobrar as ideias e abrir o canal de diálogo sobre o tema:  

PENSAMENTO CRÍTICO E ENSINO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO




Até não muito tempo atrás, o curso de direito se distinguia como símbolo pedagógico propulsor de um projeto civilizatório do qual o poder estatal vem haurindo a sua legitimidade, pelo menos, desde a época das revoluções burguesas.

Ora, independentemente das diversas manipulações ideológicas a que tal concepção geral se presta, era clara e – apesar dos pesares – palpável a ideia de uma cultura cívica propalada em meio ao ambiente das salas, corredores e bares das academias jurídicas.

Como se nesses microcosmos acadêmicos fosse perceptível, ressalvados todos os senões de conservadorismo bacharelesco, de alpinismo social e da qualidade sempre duvidosa dos saberes reproduzidos, uma disposição – ainda que subordinada ao encantamento ilusionista das vestes e dos ritos – para o tratamento de questões normativas básicas da vida em sociedade. O porquê das leis não era então algo indiferente, inútil ou inacessível.

Isto, diga-se, dentro de um contexto anterior à massificação voraz da oferta de ensino superior privado, e da racionalidade gerencial cada vez mais privatista das faculdades públicas. Sem ter a mínima pretensão de oferecer uma visão nostálgica e arcaizante do ensino jurídico, e tampouco desejar desferir argumentos reacionários contra a democratização do acesso ao conhecimento jurídico, é importante que se atente para alguns elementos em jogo no modo como se constitui o ensino do direito nos dias correntes. Como professor de disciplinas sociais e humanas do direito, sinto com ainda mais força este refluxo e asfixia não só do pensamento crítico jurídico – saliente-se –, como também de toda proposta de problematização da realidade social esperada de qualquer prática educativa formal.

Sendo assim, a instrumentalização progressiva dos programas de ensino jurídico e a dificuldade de se propor a inclusão proveitosa de disciplinas de cunho humanístico e problematizador revela uma concepção de curso, aluno, coordenação e professor submetidas à mera lógica da sobrevivência imediata frente às forças instáveis do mercado de trabalho. Neste cenário de temores constantes e expectativas pré-fabricadas, a aprovação no concurso da hora e o prêmio sonhado da mega-sena flutuam à deriva no mesmo mar das incertezas contemporâneas.

Essa mesma lógica da premência mercadista que acomete todas as instâncias de vida social circunscritas ao hipercapitalismo globalizado e corporativo tem descaracterizado o ambiente educativo de forma brutal. Assim, não é difícil constatar que as urgentes exigências de competitividade mercadológica e de otimização dos lucros vêm impedindo de forma insidiosa que condições básicas da atividade acadêmica possam se instaurar.

Com efeito, ao invés de se buscar a volta a um passado igualmente saturado de suas próprias perversões, cabe, isto sim, reivindicar a defesa das características essenciais do processo pedagógico sem as quais a educação se torna um embuste danoso.

Por conseguinte, a simples previsão de disciplinas críticas nos currículos de graduação do direito não tem muitas chances de prosperar diante do tecnicismo vulgar que atravessa a grande maioria das mentalidades envolvidas na sua realização. As aulas, nesses ambientes, amiúde se transformam em verdadeiro martírio para professores e alunos, na medida em que tais contextos não há condições estruturais mínimas para um desenvolvimento aceitável do conteúdo a ser lecionado.

O vezo hipócrita e marqueteiro das instituições responsáveis pela organização do ensino superior, hoje em dia, no Brasil, exige uma tomada de posição menos acomodada e subserviente por parte da comunidade de professores, alunos e demais afetados. Sem uma mobilização crítica prévia e constante a este modelo de ensino vigente, que possibilite reoxigenar os canais de diálogo do espaço acadêmico, caberá às disciplinas humanísticas do direito seguir dois caminhos pouco auspiciosos para fins concretos de melhoria do ensino e, por conseqüência, social: o quixotismo infecundo ou o arremedo de si mesmo.