sábado, 28 de março de 2009

Bob Dylan já dizia: don't look back!




Por que não olhar pra trás como escolha a um só tempo estética e vital? Hoje já parece moda negar a nostalgia como se com tal higiênica interdição fossem de pronto rechaçados todos os remorsos rançosos ou - cento e oitenta graus ao contrário - pregressos dias de glória impossíveis de serem já superados. Inclusive, seria até pretensamente de bom-tom evitar qualquer menção àquilo feito na véspera mesma. Decerto, agindo desta maneira se atingiria o benefício certo da vitalidade precisa e competentemente desneurotizada.
Ofereço pois - se me perdoarem a ausência de modéstia - a cartilha do bom viver em primeiríssima mão: revele-se sempre sutilmente. Comporte-se de modo tão minimalista quanto teatral e manifeste a saudável hipocrisia previdente dos gestos e mentes voltados apenas aos projetos de sucessos futuros. Sorria sempre e responda com discursos breves e afirmativos. Se for pra demonstrar seriedade, expresse-a de modo levemente distraído.
Em relação ao tempo real e presente, muito melhor seria com ele interagir do que sobre ele algo comentar. Até porque falar pouco sempre teve ares prévios e garantidos de sensatez. - Mesmo que de sensatos o inferno tenha estado sempre repleto - Mas acima de tudo, se lembre a todo instante: na medida em que nunca poderemos ter certeza acerca das possibilidades de interpretação minimamente razoável daquilo que dissemos e fazemos a partir da ótica alheia, seja o mais discreto e calado possível, porque o rojão certamente virá, e, se vier, será com força. Em tempos de simpatia distante, gestos convidativos, delicadezas simpáticas e manifestações verbais dispostas a ir além dos lugares comuns reconhecidos pelo convívio ordinário, não são tratados como marca de civilidade e refinamento espiritual. Ao contrário, destoam como anomalias ameaçadoras na paisagem monótona de grunhidos pretensiosa e falsamente disfarçados de símbolos polissêmicos.
Mas, afinal de contas, o que queremos e esperamos dos outros? Expomo-nos porque, de alguma forma, acreditamos e precisamos da comunicação humana. A lucidez parece estar sempre num espaço externo, à espera, incompleta, no contato com a diversidade. Sozinhos estamos em segurança. Mas o repouso regozijante e necessário guarda algo de inerte.
Agora, isto não que dizer que nos submetamos às interferências alheias perante nosso temperamento assumidamente vivaz (mesmo quando melancólico) e posto quase sempre à mostra, sem as máscaras autoprotetoras de plantão.
Vinícius gostava de repetir o verso: "a vida vem ondas como o mar". Incompreensões esfriadas de hoje são os abraços afetuosos de amanhã. Ou vice-versa.
Aprender a dizer o bastante e ouvir o necessário talvez já seja um bom começo.