sexta-feira, 27 de agosto de 2010

noelinas

"[...] às pessoas que eu detesto,
diga sempre que eu não presto,
que o meu lar é o botequim [...]"

"Último desejo", de Noel Rosa

possibilidades suspensas no ar

A vontade de reportar a conversa a outras paragens,
de subverter o próprio fluxo discursivo,
de jogar melhor com o silêncio e a dúvida.
De imaginar escadarias e falar sobre aquários.

A vontade, enfim, de remeter o diálogo
às suas possibilidades mais suspensas no ar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

saudades da insônia de criança

Por incrível que pareça, só sofri de insônia quando era criança. Lembro de uma madrugada em que fiquei acordado até pouco tempo antes de amanhecer. Apavorava-me a simples possibilidade de enxergar a claridade da manhã entre as frestas da persiana sem que eu tivesse caído no sonho. Também ficava muito excitado - a ponto de não conseguir relaxar o corpo e a mente - nas noites que antecediam viagens ou passeios do colégio.
Depois que cresci, não lembro de ter tido mais dificuldades pra dormir. Mas sinto saudades daquela ansiedade boa cheia de expectativas diante do dia seguinte. E mesmo quando eu não me encontrava ansioso, e me punha insone e ensimesmado, ainda assim era bom: oportunidade para os primeiros diálogos mais íntimos comigo mesmo.
A textura do tempo e a visão a respeito da vida eram então completamente diferentes.

sábado, 21 de agosto de 2010

inteligências silenciosas

Não era porque lhe dissessem para se calar. Ao contrário: seu silêncio fazia a respiração mínima e necessária diante de tanto papo besta.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

50 anos de Hamburgo

Achei interessante esta crônica do brasilianista Kenneth Maxwell sobre a relação dele com os Beatles durante a época da sua formação acadêmica e vinda para o Brasil:

"Faz 50 anos nesta semana que os Beatles tocaram pela primeira vez em Hamburgo.

Quando chegaram à cidade portuária do norte da Alemanha, em 1960, os Beatles eram cinco -John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Peter Best e Stuart Sutcliffe-, e tocavam no Indra Club, um lugarzinho que também era casa de striptease, nos limites da zona de prostituição.

Eles viviam em dois sombrios quartinhos de depósito em um cinema próximo. Hamburgo, como Liverpool, era uma cidade áspera, batalhadora e vibrante. Foi em Hamburgo que John, Paul e George tocaram pela primeira vez com Ringo Starr e que a banda adotou seu corte de cabelo característico. Ao longo de dois anos e meio, os Beatles fizeram cinco visitas a Hamburgo, e tocaram lá 281 vezes.

Em 2 de junho de 2010, sir Paul McCartney, 68, acompanhado por uma galáxia de astros, tocou na Casa Branca. Recebeu de Barack Obama o "Gershwin Prize for Popular Song", maior honraria conferida pela Biblioteca do Congresso por contribuição notável à música popular. Além de "Eleanor Rigby" e "Let It Be", McCartney cantou "Michelle" para a primeira-dama.

Há algo de encorajador na longevidade de Paul McCartney. O 50º aniversário do primeiro show dos Beatles em Hamburgo chamou minha atenção, porque estou planejando comparecer ao jantar do 50º aniversário de minha classe no Saint John's College, em Cambridge, e minha sensação era a de que comecei meus três anos de universidade muito tempo atrás.

Não estudei o Brasil em Cambridge, o que na época não era possível, embora tenha desenvolvido em 1961 um enorme desejo de visitar o país depois de assistir a "Orfeu do Carnaval", ou "Black Orpheus", seu título em inglês, um filme famoso também por sua música.

Os Beatles dominaram meu ano final em Cambridge. Também fizeram um filme para televisão, "Magical Mistery Tour", boa parte do qual filmado no sudoeste da Inglaterra, perto de onde eu vivia. O filme não foi bem recebido na época, mas trazia algumas canções maravilhosas: "The Fool on the Hill" e "I Am the Walrus", bem como "Hello, Goodbye" e outras composições memoráveis. Os Beatles fizeram sua primeira visita aos EUA em 1964, pouco antes de eu chegar a Princeton. Quando, por fim, fui pela primeira vez ao Brasil, em 1965, me orgulhava muito de apontar para as fotos dos Beatles nos jornais.

Era uma forma de identificação nacional, especialmente quando os brasileiros imaginavam que eu deveria ser português, porque tinha passado alguns meses em Lisboa e falava (mal) o português com sotaque lisboeta"





sábado, 14 de agosto de 2010

Alguma poesia de Drummond

Programa da televisão a cabo brasileira que celebra os oitenta anos do primeiro livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade: "Alguma Poesia".

http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1611445-17665-303,00.html

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

crítica musical

O pior disco do Bob Dylan vale muito a pena.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

liberdade pra pensar

As gritantes verdades ditas por um ganhador do Nobel são mais fáceis de chegar às manchetes dos jornais e mídia em geral... Assim, quando um cientista renomado (Harald Zur Hausen) diz que há menor liberdade na ciência atual, a repercussão do óbvio se faz desde o princípio garantida.
Reproduzo, portanto, a sua obviedade tão difícil de se fazer ouvir nos corredores universitários do mundo todo: "Há enorme pressão para publicar [artigos científicos] rápido. É contraprodutivo. Precisamos dar aos cientistas jovens um período de mais liberdade, estimular alguma independência intelectual, para que desenvolvam ideias por eles mesmos."


terça-feira, 3 de agosto de 2010

o prazer que as mulheres proporcionam

Gosto de ver as mulheres conversarem,
compenetradíssimas fazendo as suas coisas.
Os sorrisos, gestos e caminhares...
Mulheres como Beatriz e Dulcinéia.
Mulheres pra fazer a gente pensar e se entender melhor.
Mulheres demasiado humanas que sempre me inspiraram espanto e admiração.
E, digo mais, mulheres muito próximas do meu sentimento e jeito de existir.
Mulheres no meu espelho.