quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Escrever (...), pra quê?



Pra que se escrever, afinal de contas?
Pra excomungar os maus espíritos do cosmos e do corpo? Arrebanhar almas suscetíveis e, de quebra, embalsamar nosso discurso (muito apesar do próprio silêncio)?
Platão já dizia (escrevia!) que não devemos confiar em nada que não possa dar a possibilidade imediata e concreta de resposta para qualquer enunciado que seja... Então, meu deus, por que escrever se a escrita surge amiúde como simulacro invasivo da linguagem oral, orgânica e livre - pr'além e aquém de quaisquer mapeamentos e oficialidades?
Escreve-se pra exorcizar a morte, talvez.
Cimentam-se palavras tecidas de "sutil" sintática como quem inventa outra vida menos burra e - supostamente - (im)previsível e mais corajosa.
Mas, ainda assim, como insistimos neste hábito evidentemente injustificável que é o da escrita? Nínguém nunca parou pra pensar no absurdo que subjaz ao patético ato de escrever?
Quem sabe não seria melhor abandonarmo-nos à própria sorte da discursividade irridenta e vivérrima dos tempos simultâneos do eco e da fala? Aliás: por que se insiste em se escrever mais do que se ouve, lê e vê?
Calemos um pouco e ouçamos a voz do vento.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

sexta-feira, 1 de junho de 2007

It was forty years ago today




Há exatamente quarenta anos (01/06/1967) era lançado no Reino Unido o tal do mais famoso álbum dos Beatles, intitulado Seargent Peppers Lonely Hearts Club Band.
Quanto mais idoso fico, menor a minha propensão consciente a mitologizações. Celebrações foram feitas mesmo para o quê? (E qual a saída senão o silêncio do homem que se quer ao mesmo tempo lúcido e irridento?)
Os arranjos e letras pepperianos já correm soltos em minhas veias há muito tempo. Mas diante disso, o que se esperaria de mim? Quais discursividades poderia eu oferecer que já não foram pisoteadas pelos cadernos de cultura dos jornais mundo afora? Que esquadro estético-político-cultural que ainda não foi analisado e metodologizado pelas academias movidas a fomentos público-privados? - Muitos na verdade ... - Mesmo assim, permitam que o inominável viva em paz, ora bolas!
Desejo, não obstante, deixar minha admiração secular perante o suposto melhor disco pop e Beatle de todas as eras (Nota: Revolver e Pet Sounds reivindicam legitimamente suas posições!). "Fixing a hole" e "Being for the benefit of Mr. Kite" talvez sejam as minhas prediletas entre as mais clássicas e votadas. Os prazeres proporcionados pela sua audição estão mesmo acima de qualquer especulação de ordem estética acerca dos seus declarados significados essenciais.
(No limite, não há muita teorização que resista aos fatos crus da vida. Os verborrágicos são chatos e pedantes - além de assassinarem a delicadeza do mundo - , mas também não acredito em soluções lacônicas para os problemas existenciais do universo individual e humano. Falemos sim, ora pois! Razoavelmente! Ainda que hoje eu me permita a liberdade do exagero.)
Rodrigo Frésan em sua obra ficcional"Jardins de Kensington" faz uma ode de mais de quatro páginas a "a day in the life", considerando-a como a obra-prima dos míticos "rapazes do norte", e dizendo ainda que o gran finale do grandioso disco "(...) é o desejo impossível de fazer a História inteira caber em um dia: um antídoto sonoro para suportar o desencanto com as limitações do mundano elevando tudo a uma efeméride perfeita". Mas decerto o melhor mesmo não estava ali evidente. O mais significativo há de estar criptografado nalguma esquina melódica inacessível à razão totalitária e categórica de nossos tristes tempos trópicos.
Porém, o engraçado mesmo, é que quando a gente guarda uma relação tão próxima assim com um vulto de aceitação unânime como os Beatles, vamos transformando nossas impressões ao longo do tempo. De uma quase veneração curiosíssima a uma recepção prazerora e compreensiva das personas demasiado humanas disfarçadas em perucas-beatle, vou levando minha quase-institucionalizada preferência.
Seja enquanto foi, for e será, como esta é a minha maneira inconfessa de manifestar minha real admiração perante um produto num só tempo multiplamente industrializado e talentosamente cultural como este, traduzo mal e porcamente as palavras de um dos mais argutos estudiosos do fenômeno Beatle, Ian McDonald, na bíblia por ele escrita, "Revolution in the head":
"(...) Com o disco pronto, o grupo deixou Abbey Road ao amanhecer carregando um acetato e foram diretamente até o apartamento da "Mama" Cass Elliot, na Kings Road, onde, às seis horas da matina, eles escancaram as janelas e colocaram autofalantes nos parapeitos para tocar o álbum em seu mais alto volume sobre e através dos telhados de Chelsea. De acordo com Derek Taylor: 'todas as janelas ao redor se abriram e as pessoas se inclinavam curiosas pra fora. Era óbvio quem estava por detrás daquela gravação. Ninguém reclamou. Fazia uma adorável manhã primaveril. Todo mundo sorria e nos lançava gestos efusivos de aprovação'. "

quarta-feira, 9 de maio de 2007

quinta-feira, 29 de março de 2007

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Conjecturas (anti)normativas e desconexas sem compromisso










A possibilidade de todos os modos de vida deveria rechaçar de antemão qualquer tentativa de reduzir o mundo à moldura da lei.
As normas que se mostrarem inescapáveis sejam por favor simpáticas e personalíssimas.
Gestos e fatos brutais só serão aceitos na medida em que sejam inevitáveis e tragam a possibilidade de alguma forma de aprendizagem estética.
John Lennon escreveu e cantou : "Half what I say is meaningless, but I say it just to reach you".
O cinema e o futebol hoje em dia são mera caricatura em comparação com o que um dia já foram. Vide a empulhação em grande estilo midiático das últimas Copa e entrega do Oscar.
A propósito: se Clint Eastwood é apontado como um cineasta genial (mesmo sendo inquestionavelmente competente), isto, por si só, é um sintoma gritante da não-renovação dos talentos no universo cada vez meno seleto dos fazedores de filmes e artistas em geral. Mas isso já é outra história.
Diga: qual o último grande (mas grande mesmo!) filme que assistiu?
Qual o maior atacante em atividade no futebol nacional (pra não dizer mundial)? Romário aos 41 anos?!?!
Todos métodos são chatos, falíveis e empobrecedores; mas para viver sem eles é preciso muito talento e/ou muita sorte.
Há dias que já nascem aziagos.
Renovar é preciso. Criar nem se fala.
Que venham as águas de março!
Post Scriptum (11/06/07)
O ano de 2007 - até o presente momento - será por mim lembrado como um fiasco das manifestações culturais existentes. Os filmes novos que eu assisti me pareceram fraquíssimos - e o que é pior, vêm embalados com uma propaganda midiática ensurdecedora.
O futebol está cada vez menos artístico e mais homogeneizado. Mas é uma homogeneização de medíocres com passes valendo dezenas de milhões de dólares!!
Começo a desconfiar que até os mais "independentes" articulistas culturais estão a se inebriar nesta atmosfera pasmacenta e profundamente enganosa. Afinal, todos têm que garantir a conta bancária no quinto dia útil do mês...
Queres respirar? Desconecta-te por um tempo deste estéril ambiente contemporâneo. Verás que os horizontes se espalham muito além do anunciado por intelectuais midiatizados e artistas vampiros das leis de incentivo e patrocínios "suspeitos"a granel.
Por via das dúvidas, evita os jornais, a televisão, blogs desqualificados, o último lançamento em dvd...
Ogum e Zeus do céu! Nunca houve tamanha saturação! Se há alguma novidade digna de nota, acredito (pelo menos no momento em que escrevo essas linhas): elas estarão todas escondidas - discretas e quase imóveis. Ou no passado ou longe dos holofotes da obviedade de rebanho.
Mas que ainda há pujança humana a ser nutrida e multiplicada, disso eu não tenho dúvidas.
Vamos acordar!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Faxina

[um flerte conceitual]