domingo, 30 de maio de 2010

vida e sonho

Não é que eu goste menos do mundo com os olhos abertos, mas parece que o espírito do sonho é tão radical que a própria existência alerta se torna ensaio pra que durante esses momentos tão fugidios a gente viva da forma mais intensa possível.
O sonho contém a vida e outros possíveis universos enquanto flui incerto, temido e desejado.

domingo, 9 de maio de 2010

Let it beatles - uma homenagem aos quarenta anos de seu final grandioso




Para o Gil


Então os Beatles terminaram o Álbum Branco e parecia que tudo já tinha sido feito. 68 chegara ao fim. A meditação na Índia e o ácido de Seargent Pepper's também.
 Na virada do ano George fora a Woodstock passar com Dylan e sua turma. Voltou de lá impressionado com o fato de as energias externas à bolha Beatle serem muito mais leves. Lennon, por sua vez, cada vez mais dentro do processo criativo e existencial da sua nova parceira Yoko. O ano que não terminou não foi nada fácil pra ele: prisão por porte de maconha e o aborto de seu primeiro rebento com Ono. Agora, pra segurar a barra, embarcavam os dois na promessa de alívio imediato da heroína. "Everybody had a hard year...". 
Ringo, então, já tinha anunciado a sua saída da banda durante as gravações do White Album e foi pra Sardenha esfriar a cabeça enquanto compunha Octupus's Garden. Aceitou voltar só porque os três rapazes lhe fizeram juras de amor, com flores e elogios de que ele seria o maior baterista de rock do mundo.
Apenas McCartney mesmo, depois de uma rápida temporada de férias no Algarve, pra convocar os companheiros a mais uma temporada de trabalho. O problema é que as coisas já soavam mais exaustivas do que recompensadoramente trabalhosas.  Difícil esconder o mal-estar e a necessidade de fugir daquele redemoinho todo.
As câmeras de Michael Lindsay-Hogg mostraram tudo isso no filme que ficou marcado na história do cinema como um dos mais pungentes no subgênero das histórias sobre divórcio.  Mas é claro que tudo isso não diz tudo sobre o que viria a ser o último disco da maior banda de todos os tempos.
Pra começar, não concordo com as vozes depreciativas que insistem em tratar Let it be como menor na discografia Beatle. Tudo ali é precioso, sobretudo as imperfeições. Lennon toca (mal) baixo em Let it be e sola (pro gasto) a guitarra em Get back. E mesmo assim não poderia ser melhor. As vozes dos dois maiores cantores da música popular anglo-saxônica nunca estiveram tão rasgantes e inspiradas quanto aqui. Don't let me down, Dig a Pony, One after 909 e Maggie Mae são alguns exemplos do alcance e versatilidade de emoções que a interpretação de John conseguia expressar. Ponha outro em seu lugar e nunca será a mesma coisa...
E o que dizer de Paul que já não tenha sido repisado ene vezes? Se o seu parceiro era versátil, McCartney era tudo isso com ainda mais veludo e alcance vocal. E se seu temperamento como cantor não oferecia tanta ironia e lucidez crítica quanto o de Lennon, ainda assim era capaz de atingir voltagens inigualáveis quando o sentimento se fazia urgente. Let it be é um gospel poderosíssimo de consolação e aceitação diante de toda hostilidade inevitável deste mundo.  O idioma quase sempre solar e confiante de McCartney revela nesta canção o desconsolo, o temor e a pequeneza humana que só o grande artista é capaz de exprimir. The Long and winding road é outro momento apoteótico desta safra incomparável de Paul. Ele nunca mais seria tão intenso e verdadeiro quanto na época em que, muito antes de Lennon, anunciava o fim do sonho Beatle. I've got a feeling tem toda essa atmosfera de pressentimentos dolorosos que terminariam por cristalizar em desilusão no You never give me your money, do verdadeiro último canto dos Beatles, Abbey Road.
Harrison, como todos já sabem, atinge a plena maturidade e independência frente à tirania acachapante da dupla criativa Lennon-McCartney. Todas as suas canções da última jornada Beatle são primorosas: I me mine e For you blue, embora não sejam tão evidentemente clássicas quanto as que ele faria  no álbum seguinte (Something e Here comes the sun), ainda assim são pequenas jóias cheias de força e charme. Definitivamente ele possuía olhares e disposições que os outros não tinham. Não era inferior, sob o ponto de vista criativo, aos líderes, mas mais jovem e menos vaidoso ao longo de toda a evolução da banda. Foi coadjuvante enquanto se percebia menos maduro. Em 69, entretanto, ele é que tinha mais novidades e qualidade pra botar na mesa.
E ainda havia vitalidade aos borbotões quando eles anunciaram o fim. Porém, como o próprio Lennon disse, eles eram apenas uma banda e os discos continuariam aí pra serem ouvidos e comentados. É claro que tinham plena consciência da qualidade imortal da obra criada em conjunto naqueles últimos doze anos. Os tempos é que eram outros.


sábado, 8 de maio de 2010

tempos

tempo devagar
rápido
a vagar

domingo, 2 de maio de 2010

refrão de uma canção de 1997

"as garças esfumaçantes são muito elegantes
e os elefantes não conseguem voar"