quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

o desbunde das épocas

Adoro a palavra desbunde por tudo o que ela possui de desvio diante das experiências unicamente atreladas à toda burra repetitividade ou à repressão. O Gil escolheu esta palavra ao lembrar da Rita Lee no início dos anos 80. Melhor uso possível de um termo que hoje em dia talvez tenha perdido muito de sua irreverência, lucidez e até possibilidade de aplicação. Tem alguém desbundado por aí?

Noutros tempos, o simples ato de desbundar já refletia ares de atitude estética e política. Não vejo, pois, o desbunde como estado aparentado da alienação. Ao contrário. Até onde alcanço, esses dois termos são os dois polos opostos de uma mesma antítese.
Ora, a turma odara, por ser desbundada nos anos 70, gostando-se dela ou não, possuía muito da verdade de seu tempo. Os hippies nos anos 60 e começo dos 70 também. O mesmo se poderia dizer de outras situações em que o próprio absurdo da história teria produzido sua contradição em tom de chiste e devaneio.
As gerações do entre-guerras no hemisfério norte, por exemplo, conheceram a loucura criativa junto com a ascensão do rádio e do jazz. Nossas ditaduras latino-americanas também tiveram a contrapartida de tamanha estupidez no florescimento de um amplo e variado espectro de talentos humanos capazes de afrontar com inteligência o descalabro institucionalizado.
Desbunde, portanto, demanda um mínimo de coragem.

Um comentário:

  1. o desbunde de se assaltar um banco! ontem vi o tal filme "se nada mais der certo", e pensei ainda mais sobre isso! sobre a necessidade de um tiro certeiro no meio da canalhada em que nos metemos nos tempos de hoje!

    tempo mais vagabundo este!!!

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